L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

dimanche 11 avril 2010

Sinfonia da morte - RJ, abril de 2010.

        "O que garante que nosso pensamento é de fato o nosso? Que sentido me revela que meu pensamento é meu? Enxergar no Cogito que me apreendo a mim mesmo sem intermédio é precisamente responder a essas questões; é reconhecer o conhecimento imediato e intuitivo da consciência."
        Não, não sou jornalista. E, por hoje, tampouco poeta. Se minha alma é composta por palavras, hoje, minha dor a cala. Minha?! A dor de mais de 15 mil desabrigados, de mais de 200 mortos, de centenas de insones que aguardam a confirmação do fim... da vida ou do desespero?Não, não sou realista. E, por hoje, tampouco sonhadora. Aqui reside a dor do silêncio, a dor do desabafo. Meus olhos não descansam, os pesadelos não terminam. Acordo. Durmo. Acordo. Durmo. Ainda estamos vivos? Gritem as lamentações dignas do luto, gritem as súplicas dignas dos injustiçados... Gritem porque minhas rimas têm relutado, gritem porque a ausência do som revela que já é tarde, que a vida foi vencida, sendo a morte gloriosa. Gritem, a voz foi aterrada, soterrada, buscada, encontrada, desfalecida. Não, não sou o fim. E, por hoje, tampouco o recomeço. Se meu luto é desolador, hoje, a empatia o consome. Não, não sou ninguém. E, por hoje, tampouco sou consolada. O mundo não para. Fechem os olhos, tapem os ouvidos, as mãos já estão atadas e a poesia derrotada pelo nada.Não, não encerrem. E, só por hoje, sofram no silêncio da perda, sangrem no silêncio da tristeza, enterrem na certeza da morte.

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