L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

vendredi 21 décembre 2012

Causa e efeito

Eu não quero mais
Ser a sua Musa.
Vê se não me abusa!
Não quero mais...
Ser o violão dos seus versos,
Ser a contramão do seu carro,
Ser a vibração do seu sexo.

Já não posso mais
Ser a sua chuva.
Vê se não me culpa!
Não consigo mais...
Ir à sua casa,
Dormir na sua cama,
Sonhar que ainda me ama.

Não devemos mais
Crer em nossa vida.
Vê se não me liga
Porque eu não quero mais!

jeudi 20 décembre 2012

Ato falho

Chuva
cobre as manhãs
Vento
colhe as maçãs
Lágrima
corre de olhos cerrados
Nome
dito entre os lábios errados

vendredi 31 août 2012

Terras distantes

Ela contemplava o mar sentada na areia quente.  Custava-me entender o que tanto buscava. Não havia lua naquela noite. O horizonte era tranquilo e negro.  Mas eu ainda desejava sentir o gosto salgado dos lábios dela. Seus lábios não eram grossos ou avermelhados, seu corpo não era curvilíneo e sensual. Não tinha cabelos compridos e lisos ou mãos  delicadas nem, ao menos, pernas bem feitas e pés pequeninos. Mas eu ainda desejava sentir o gosto da língua morna dela, ainda ansiava umedecer minha boca com a saliva ácida dela. Não havia beleza incomum. Não havia dor em comum. Contudo, havia esse desejo dentro de mim que nascia de dentro dela. Mesmo com tudo, havia esse desejo de desenhar um mundo proibido acima e ao longe para amantes de línguas estrangeiras ou de paixões passageiras, de terras distantes.

mercredi 29 août 2012

Só mais um bater de asas


Tantas coisas aconteceram ao longo dos anos. Coisas que nem sempre pude evitar, nem sempre pude determinar o caminho que as pessoas ao meu redor seguiriam ou, ao menos, o caminho que eu mesma iria tomar. Se eu dissesse que não sei como cheguei até aqui, seria mentira. Lembro-me bem de todas as escolhas que fiz. Todas foram tomadas conscientemente. Entretanto, isso não impede que eu tenha cometido equívocos. Não sei ao certo onde cometi o erro mais grave, se precisava chegar até onde estou hoje para começar a enxergar. Não sei ao certo qual a parcela de culpa de cada um nessa história. E acho, sinceramente, que a culpa não cabe mais em lugar algum.

Fico pensando se esse era o propósito de Deus realmente. Será que Deus realmente tem a ver com tudo isso? Será que eu deveria ter acreditado no amor? Conheci pessoas incríveis, vi lugares belíssimos, aprendi grandes lições... Aprendi que é possível aprender a amar, que é possível desenvolver a paciência, a caridade, o perdão, que é possível questionar a fé e não a perder, que é possível duvidar de tudo o que já se foi, de tudo que virá, de mim mesma.

O tempo passa e com ele os sonhos começam a se tornar mais importantes que qualquer vestígio de remorso, de receio, de perspectiva. O tempo passa e com ele a realização dos sonhos começa a não fazer sentido algum sem amor. Sinto-me presa nos versos cíclicos de um poema triste e inacabado. Sou um eu-lírico tristonho e, às vezes, conformado. Sou uma ferida diabética que, às vezes, cicatriza.

Tantas coisas aconteceram ao longo dos anos. Sinto um desamor tão grande. A vida tornou-se insípida e dilacerada. Faltam pedaços vitais meus. Não me falta o amor de todo... Falta-me amar de todo coração. Lembro-me do amor que tive (e isso me lembra de Vinícius). Lembro-me de perdê-lo, de vê-lo agonizar desesperadamente, como alguém que morre de cólera, contudo, lentamente. O que posso eu, pergunto a você, contra a morte? Ela que cotidianamente me persegue, ela que voluntariamente me observa e pacientemente me espera perecer, na certeza de que, mais dia menos dia, a esperança encalcada que trago na alma se esvaia por entre seus dedos grandes e finos, de ossos expostos.

vendredi 10 août 2012

Afrasia


Calaram a minha voz.
Sufocaram em meus pulmões
O grito endoidecido da solidão.
Expulsaram a ínfima tristeza;
Recobriram de amarelos sorrisos,
Despetalando os versos...
O poema mais lírico que o eu já compôs.

Silêncio, silêncio!
Não é possível dizer ao menos;
Engasgo – só com o pensamento.

Sentiram a minha dor.
Subornaram, ó deuses,
O sonho amadurecido da intenção.
Germinaram a minúscula semente;
Regaram de vermelhas águas,
Desarranjando os laços...
O retrato mais humano que o divino já criou.

Silêncio, silêncio!
Não é possível fingir ao menos;
Morro só – com a felicidade.