L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

lundi 31 mai 2010

Uma ponte - Para S. G.

"[...] Mas quando ao entardecer surgiram remotas as primeiras luzes da cidade voltou-se para mim com os grandes olhos rasos de lágrimas disse: -- Por que vieste comigo? -- O que podia eu responder-lhe?! Não respondi (se um dia alguém quiser escrever a minha biografia só encontrará silêncios)."




Fradique Mendes in Nação Crioula (P. 74)


        Em meu mundinho encantado me escondo, desejando que nenhum elementar mistério encontre meus segredos nos entrecaminhos que escrevo com meu olhar. Mas, meu esconderijo invadido pela força do alguém insuspeito, insuspenso de minha vida, interrompeu a sublimação da ferida causada pelo feitiço mais poderoso que há.
        Em meu quarto meticulosamente (des)arrumado me encontro, esperando que sua mala (des)feita não volte a me habitar. E, quando a sua presença se faz matéria, evito o confronto do olhar.
          -- Oi. Tudo bem? - pergunta o alguém a quem não consigo nomear.
          -- Tudo. - respondo ao intruso, sem nem mesmo falar.
          Então se vai. E eu vou também. A culpa foi a única que ficou...
         Em meu caderno rabiscado me escrevo, pensando que queria, no fundo, atravessar o abismo que nos separa com um simples abraço. Mas seria como sempre foi... Sem desculpa nem perdão, como se o feitiço fosse real. Tenho que desculpar a mim mesma por passar da passividade para uma luta pacífica. De repente, o melhor seja aquele velho silêncio condescendente, pois outra palavra pode manter a bruxaria, ou pior... Outra palavra poderia quebrar o encantamento e, então, teríamos que dialogar e preencher o vazio do abismo entre nós. Difícil, não é? Mas, o laço que nos une, esse permanece...