L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

vendredi 5 novembre 2010

Homem covarde

Crave um punhal em meu peito!
Crave um punhal em meu peito
E, depois, vá embora,
Homem covarde!
Daqueles que invade o espaço vazio,
Senta ao meu pé e reina,
Planta a semente, semeia;
Daqueles que passa como um rio.


Homem covarde! Homem covarde!
Rasgue com teu veneno minhas veias.
Morram em meus pensamentos tuas sombras.
Fechem os nossos caminhos nossas dores.

Consuma meus olhos em teu destino!
Consuma meus olhos em teu destino
E, depois vá se esconder,
Homem covarde!
Daqueles que abre o lacre corrompido,
Pisa em terreno abandonado,
Arranca suspiros do corpo dilacerado;
Daqueles que fica como um vício.

Homem covarde! Homem covarde!
Desvende o segredo desse abismo.
Atrás do medo não te enxergo.
Não suporto mais te ver aqui.

dimanche 26 septembre 2010

Le goût d'un mensonge

     
Enquanto o sol poente banhava a cidade com seu brilho dourado, o vento varria as folhas secas de um Outono caído. O sopro era gélido. Talvez o Inverno chegasse mais cedo neste ano. Mas, apesar de ser gélido e cortante, era só o Outono.
O cabelo teimava em tapar-lhe os olhos. A névoa teimava em embaçar-lhe a vista. Caminhava pelas ruas contemplando o cinza do concreto mesclar-se ao vermelho das frutas que lhe chamavam a atenção. As maçãs do rosto igualmente avermelhadas, essas pelo frio. As amoras da quitanda arroxeadas pelo amadurecimento, essas eram suas preferidas.
A boca nutria o desejo ansioso dos amantes. As mãos tornavam o pecado perfeitamente possível. O cheiro era inebriante. A textura provocante. Entreabertos, os lábios lembravam duas cerejas silvestres: róseos e macios. Os olhos tinham a cor do tabaco, intensamente escuros. Fracos, já não se mantinham abertos. Era tão sedutora, tão suavemente sensual e terna a mordida que todos os sentidos se concentraram no sabor indescritível daquela infrutescência carnosa. O mundo havia parado? Não ouvia mais o barulho do vento nem da ruidosa metrópole. Não importava. Mais nada importava. O gosto entorpecia silenciosamente todo o corpo. Um leve calor se espalhou junto com os espasmos de prazer.
O sensível delírio do paladar havia acabado. E, ao abrir os olhos, era tudo escuridão. Tentei gritar, mas a voz não saía. Tentei chorar mas a lágrima não corria. Nem crepúsculo, nem aurora. Era só a madrugada eterna e solitária, ostentando o obscuro de nós mesmos. Um passo e vislumbrei a a morte na sensação de cair num poço sem fim. Quando o corpo alcançou o chão, pude ouvir o som de meu próprio grito. Mas, apesar de ser duro e humilhante, era só o chão do meu quarto. Um pesadelo numa noite de sono atormentado pelo calor dos trópicos. Voltei à cama, deixando as gotículas de suor elevarem meu corpo nu às carícias d'un mensonge.

mercredi 1 septembre 2010

"Sobre a dor que nos une" - Só mais um conto...


Silêncio... Eu estava tão alegre naquele dia. Sentia uma leveza incomum e, talvez por isso, indescritível. Sentia mesmo que podia flutuar. Mas não o fiz. A sensação de conforto perpassava todo o meu corpo. Eu estava tão integrada ao lugar que não sentia meus membros. Só queria permanecer ali... Os olhos fechados. As pálpebras pesavam tanto e o sono entorpecia todo o meu ser.
Sussurros... Eu tentava me lembrar que lugar era aquele. Lugar desconhecido e tão aconchegante. Tinha ido ao escritório para pegar uns relatórios que precisavam ser analisados. Era sábado. Todos deviam estar com suas famílias, talvez numa casa de praia, afinal, o dia estava tão bonito; ou, quem sabe, numa casa nas montanhas: chocolate quente para os filhos, café para os concentrados, chá para os relaxados. Bem, eu só precisava pegar os relatórios e voltar para casa. Ainda era manhã e Mateus devia estar dormindo... Podíamos viajar. Quase nunca ficávamos juntos. Coloquei os relatórios na pasta, segui para o estacionamento. Só havia um carro: o meu. Entrei, abri as janelas para sentir o vento, liguei o CD player e, ao som de Chopin, dirigi tranquilamente pela cidade. Estava perto de casa quando parei no sinal vermelho. Verde: segui.
Dor... Minha cabeça pesava, minha boca amargava. Sentia uma dor aguda. Os espasmos quebraram todo o meu raciocínio e me deslocaram de mim mesma. Quando cheguei a casa, Mateus tomava o café da manhã que Maria havia preparado para ele. Foi incrivelmente saboroso vê-lo feliz com a proposta da viagem. Só precisamos de duas horas para organizar tudo. No banco de trás do carro, ele planejava o final de semana elencando todas as suas vontades. Mateus parecia com o pai: olhos cor de tabaco intensamente vivos, procurava em tudo a essência da vida, era simples e forte e lindo. Era tão difícil vê-lo e não lembrar, vê-lo e não sentir essa aguda dor no peito. Mais um sinal. Verde: segui.
– Acorde! Vamos, garota, acorde! – uma voz masculina gritava, insistia. Eu sentia tanta dor. Todo o meu corpo reagia. Abri os olhos. Estava tão claro. O sol incomodava demais. Não dava para entender o que toda aquela gente falava. Olhei ao redor, tentando digerir a cena. Carros de polícia, ambulâncias... Uma multidão nos cercava. E deitado no chão, frágil como eu nunca havia visto, pequenino e imóvel, estava o meu filho sobre uma poça de sangue.
– Tia, falta muito para a gente chegar? – havia ansiedade em sua voz.
– Não, meu amor, só falta um pouquinho. Por quê? Você quer alguma coisa?
Eu o olhava pelo espelho do retrovisor. Dava para perceber que ele queria dizer algo. Suas feições haviam mudado, entristeceram-se. Então compreendi o que ele tentava dizer...
– Você quer ver o papai e a mamãe antes de irmos à praia?
– Quero sim. Você se importa?
– Claro que não. Também sinto a falta deles.
– E a do Miguel também, né?
– É... Sinto muito a falta do Miguel.
Não era só o amor que me unia a Mateus. A dor da perda era um elo de identificação muda e natural entre nós. Mateus era filho da minha única irmã com um homem incrível. Ela havia morrido no parto. Sempre acreditei que o pai de Mateus também morreu naquele fatídico dia. Depois da morte da esposa, Pedro começou a definhar. O alcoolismo acabou com a sua vida... E com a de meu filho. Num mesmo acidente perdemos quase toda nossa família. Hoje, Mateus e eu tentamos superar um dia após o outro. E quando achamos que não temos mais nada, ainda temos o silêncio para partilhar. Sempre teremos um ao outro.
– Pronto para ir à praia?
– É, estou.
Todos foram enterrados no mesmo cemitério. Túmulos lado a lado para experimentarmos todo o conflito a ser sentido para o resto de nossas vidas.
– Tia, podemos tomar sorvete antes de continuarmos a viagem?
– Hum... Boa ideia! Está quente mesmo, um sorvete vai ser bom.
Verde: seguimos, mesmo com todos os sinais.

dimanche 29 août 2010

Ainda...

Hoje, abri a janela e deixei o sol entrar.
Enquanto a claridade invadia minha alma, pude notar o abismo que separa nossas vidas.
A escuridão falseava a nitidez.
Agora, comtemplo o vazio de mim mesma.
Agora, sinto a impotência de minha situação.
Fico me perguntando o que acontecerá depois...
Depois é tempo que não chega.
Depois. Depois. Depois.
Quero mais do que o agora e o de vez em quando. Quero o Sempre.
Mesmo que seja sempre que você quiser.
Triste de mim que amo sendo amada, mas que espero sem ser esperada.
Triste de mim que desejo sendo desejada, mas que vivo sem ser vivida.
Triste de mim...
Ainda aqui.
Ainda que sendo assim.
Ainda sem saber por quê.
Ainda sem você.

jeudi 26 août 2010

Entretantos, entrepontos, enterrados...

        À margem das três margens das vidas que correm como os rios, perenes ou caudalosos, estamos nós, e estamos a sós com nossos amores pouco prováveis. Pouco? Muito? Perto? Longe? Menos? Mais distantes. Relativamente é por oposição, justamente é pelo não. E quem somos? Se somos, somos três. Se somos, somos um, não pela unidade trina, mas pela individualidade comum.
        Entre todos os abismos escolhi o de minha própria alma. Entre todos os ângulos preferi o de meu próprio princípio. Entre todos os erros encobri o de minha própria saga.
       Entretantos, entrepontos, enterrados. ENTERRADOS? Porque o amor acaba. Com o tempo ou com a distância. Com o ponto ou com a morte. De repente como o silêncio. "O amor acaba", dizem por aí, escrevem por aqui. Eu nunca fui de acreditar nas verdades que se falam, que se buscam, que se rasgam. O que é mesmo VERDADE? Um fio de voz que cala para ser sentida, sonhada. A verdade ERA...
 

mercredi 11 août 2010

Princípios - para A. G.

? Se minha língua fosse outra, o desvio seria normatizadamente contrário. Se meu quarto reflete minha alma, talvez não fosse eu um extenso aposto que introduz um fim infinitamente eterno, mas uma interrogação reflexivamente crítica. Pensando bem, devo contar esta história com outro começo. Se a minha vida for um pretérito perfeito, o ponto interrogativo me introduz, mas a perfeição é (ir)real? No enfim apresentativo de meu presente indicativo, (re)começo neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. Isso me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

... Se o momento fosse outro, meu quarto teria porta. Agora, tenho sim um quarto desarrumado que me incomoda, entretanto, meu quarto não possui parede que me aprisione ou resguarde minha dignidade. O meu lugar é o não-lugar de todo o mundo e, se eu fosse outra, o mundo seria um lugar ideal, porém, causo estranheza aos animais e provoco paixões nos sentimentais. Isso também me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

: a porta bate. Não havia ninguém. Era só o vento me despertando de um pesadelo. A cama não era minha, o cheiro não era meu, não havia travesseiro, aquela não era eu. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. Faz tempo que não encontro um pedaço dela em mim. Faz tempo que me perdi no abraço pequeninamente imenso dela. Realmente fazia tempo. Em contrapartida, nenhum tempo passava sem que ela existisse. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado? Não. Talvez para fingir que não tenho medo, talvez para disfarçar o nada que tenho.

Vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Eu fico me perguntando como ela terminará. Comecei do meio para não perder tempo com despedidas amargas, o que faria desta história um clichê. E ainda me pergunto como terminará, se não há motivo algum para continuar, exceto pelo invólucro letárgico que subordina os meus dias.

Não era noite. Nem sequer era dia. Uma tarde seca como a de Fabiano. Algumas crianças, algumas mulheres, algumas mães, algumas faltas, todas as angústias. A música estava alta e me impedia de ouvir meus pensamentos. O dia não teve nenhum abraço, não teve nenhuma lágrima, apenas conflitos, dores e distâncias. Um princípio breve que ainda dura em mim. Minhas convicções. Minhas convicções! Por isso cheguei até aqui, por isso me perdi. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. As roupas estavam sobre a cama e a mala estava vazia. Era necessário refazê-la outra vez. Um lugar para os vestidos, um lugar para as calças, um lugar para os sapatos... E onde fica o meu lugar? Antes de fechar a mala, dou mais uma olhada na fotografia que eterniza os sorrisos de um paraíso longíquo, enquanto espero um inferno vindouro, duradouro, sumidouro. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado?

E vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Bem, a história se passou por trás de cada palavra, começando com uma despedida amargamente dolorosa, passando por uma saudade dolorosamente amargorosa, terminando com uma mala que volta para casa porque não há milagre que transforme o mundo de números no mundo de Letras. Se minhas convicções fossem outras, meu texto teria enredo e terminaria neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. E isso me fez lembrar de uma outra história que certamente não se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

mercredi 23 juin 2010

Pictural

        Seus corpos, agora inertes, repousavam sobre a cama. Ela contemplava a imagem formada dentro dos olhos dele. Ele buscava o significado da vida na profundidade do olhar dela. O silêncio que os separava, naquele instante, era só mais um elemento no conjunto de detalhes que enalteciam aquele quadro. Para ela, o quadro pintado era sempre o mesmo: as cores que o compunham desarticulavam o espaço e o tempo; toda lógica era quebrada; nenhuma moldura limitava a tela; o amor completava o caráter semiótico da obra. Para ele, o quadro pintado era sempre enigmático: as cores que o compunham desarticulavam o espaço e o tempo; toda lógica era quebrada; nenhuma moldura deveria limitar a tela; o amor completava o caráter semiótico da obra. Ela tinha seus pontos de vista. Ele via por ângulos diferentes. Sob ideologias diferentes viam a mesma vida, viviam o mesmo amor, amavam a mesma arte, articulavam a mesma dor.
        Seus corpos, agora vivos, queimavam sobre a cama. Ela buscava a si mesma no reflexo dos olhos dele. Ele contemplava a si mesmo na juventude dos olhos dela. A vida que os separava, naquele instante, era só mais uma razão no conjunto de sentimentos que exaltavam aquela pintura. Para ela, a vida pintada era sempre a mesma: os cabelos longos e retos compunham uma personalidade sóbria; os cabelos loiros em camadas gritavam um duplo em desespero; os cabelos castanhos e curtos descobriam a multiplicidade do ser; o cabelo revelava o caráter ideológico da obra. Para ele, a vida pintada era sempre exótica: os cabelos castanhos e curtos compunham uma personalidade sóbria; os cabelos em estilo moicano gritavam um duplo em desespero; o calvo descobria a multiplicidade do ser; o cabelo revelava o caráter ideológico da obra. Ela tinha personalidade. Ele tinha institucionalidades. Sob experiências diferentes viam a mesma vida, viviam o mesmo amor, amavam a mesma arte, articulavam a mesma dor.

dimanche 20 juin 2010

Mestre (I)Mortal

Na aurora. No crepúsculo. Na madrugada. Líquido e preto e quente e sempre Sarama(r)go. De capa dura azul mesclado, de letras grandes azul dourado. Azul sem nuvens, céu ensolarado. Azul chuvoso, céu nublado. De página amarela sou Pilatos, no mar da Galileia marias e fardos. No prefácio. No conflito. No epílogo. Sólido e encardido e frio e sempre Sarama(r)go. De fôlego sem pausa pontuada, de dor atroz vermelho sangue. Vermelho sem cortes, ego renegado. Vermelho viscoso, Ele abençoado. De fim gotejante sou vital, na margem da literatura dedicatórias e embargos.

lundi 31 mai 2010

Uma ponte - Para S. G.

"[...] Mas quando ao entardecer surgiram remotas as primeiras luzes da cidade voltou-se para mim com os grandes olhos rasos de lágrimas disse: -- Por que vieste comigo? -- O que podia eu responder-lhe?! Não respondi (se um dia alguém quiser escrever a minha biografia só encontrará silêncios)."




Fradique Mendes in Nação Crioula (P. 74)


        Em meu mundinho encantado me escondo, desejando que nenhum elementar mistério encontre meus segredos nos entrecaminhos que escrevo com meu olhar. Mas, meu esconderijo invadido pela força do alguém insuspeito, insuspenso de minha vida, interrompeu a sublimação da ferida causada pelo feitiço mais poderoso que há.
        Em meu quarto meticulosamente (des)arrumado me encontro, esperando que sua mala (des)feita não volte a me habitar. E, quando a sua presença se faz matéria, evito o confronto do olhar.
          -- Oi. Tudo bem? - pergunta o alguém a quem não consigo nomear.
          -- Tudo. - respondo ao intruso, sem nem mesmo falar.
          Então se vai. E eu vou também. A culpa foi a única que ficou...
         Em meu caderno rabiscado me escrevo, pensando que queria, no fundo, atravessar o abismo que nos separa com um simples abraço. Mas seria como sempre foi... Sem desculpa nem perdão, como se o feitiço fosse real. Tenho que desculpar a mim mesma por passar da passividade para uma luta pacífica. De repente, o melhor seja aquele velho silêncio condescendente, pois outra palavra pode manter a bruxaria, ou pior... Outra palavra poderia quebrar o encantamento e, então, teríamos que dialogar e preencher o vazio do abismo entre nós. Difícil, não é? Mas, o laço que nos une, esse permanece...

vendredi 30 avril 2010

Poeta do Tempo

Descrever o som do vento.
Compor com as palavras
Esquecidas pelo tempo
Uma linda nuance,
Perdida em seus olhos,
Suscitando em nós
A essência descoberta,
Por Deus confiada.
A esperança velada.
O desejo improvável.
A certeza do amor
Existente em você.
Escrever com o vento...
Colorir a cor mais intensa.
Compor o tempo com o silêncio.
Esquecer a existência do mal.
Escrever com o vento...
Compor versos mais extensos.
Ouvir o lamento do escritor,
Poeta do Tempo,
Verdade que vence o mal.
A dor de não ser você.
Crer que só o amor pode fazer
Fechar os olhos e ouvir o coração.

dimanche 11 avril 2010

Sinfonia da morte - RJ, abril de 2010.

        "O que garante que nosso pensamento é de fato o nosso? Que sentido me revela que meu pensamento é meu? Enxergar no Cogito que me apreendo a mim mesmo sem intermédio é precisamente responder a essas questões; é reconhecer o conhecimento imediato e intuitivo da consciência."
        Não, não sou jornalista. E, por hoje, tampouco poeta. Se minha alma é composta por palavras, hoje, minha dor a cala. Minha?! A dor de mais de 15 mil desabrigados, de mais de 200 mortos, de centenas de insones que aguardam a confirmação do fim... da vida ou do desespero?Não, não sou realista. E, por hoje, tampouco sonhadora. Aqui reside a dor do silêncio, a dor do desabafo. Meus olhos não descansam, os pesadelos não terminam. Acordo. Durmo. Acordo. Durmo. Ainda estamos vivos? Gritem as lamentações dignas do luto, gritem as súplicas dignas dos injustiçados... Gritem porque minhas rimas têm relutado, gritem porque a ausência do som revela que já é tarde, que a vida foi vencida, sendo a morte gloriosa. Gritem, a voz foi aterrada, soterrada, buscada, encontrada, desfalecida. Não, não sou o fim. E, por hoje, tampouco o recomeço. Se meu luto é desolador, hoje, a empatia o consome. Não, não sou ninguém. E, por hoje, tampouco sou consolada. O mundo não para. Fechem os olhos, tapem os ouvidos, as mãos já estão atadas e a poesia derrotada pelo nada.Não, não encerrem. E, só por hoje, sofram no silêncio da perda, sangrem no silêncio da tristeza, enterrem na certeza da morte.

mercredi 7 avril 2010

...VBIQVE, VBIQVE...

"Ex quo exardescit sive amor sive amicitia" Horácio.


VBIQVE, suus passus duco.
Em segredo, secreto nosso amor.
Em seguida, posteriorizo o fim.
Em vão, frustro a chegada.
Em vão, frustro a partida.
Em seguida, posteriorizo o recomeço.
Em segredo, secreto minha dor.
VBIQVE, meus passus ducis.

lundi 29 mars 2010

Partida

        Partir significa simplesmente ir embora. Metaforicamente ou não, partir, seja para quem vai ou para quem fica, está relacionado à perda. Eu sempre vou. Minha alma sempre fica. Independente de para onde, perco-me de mim mesma. Você sempre vai. Minha alma sempre vai contigo. Independente de para onde, perco-me de você.
        Partir significa complexamente ter que seguir por hora. Verdadeiramente ou não, ter que seguir, seja para quem vai ou para quem fica, está relacionado à dor. Eu sempre choro. Minha alma sempre se purifica. Independente do tempo, encontro-me em mim. Você sempre chora. Minha alma sempre sofre contigo. Independente do tempo, encontro-me em ti.
        Partir significa utopicamente buscar o caminho de volta. Silenciosamente ou não, sonhar, seja para quem vai ou para quem fica, está relacionado à realização. Eu sempre espero. Minha alma sempre acredita. Independente da verdade, construo-me em mim. Você sempre espera. Minha alma confia na sua. Independente da verdade, construo-me em ti.

vendredi 5 mars 2010

Sigo seus passos...

Mesmo que as estradas se bifurquem...
E elas se bifurcarão.
Ainda que sigamos caminhos paralelos...
E eles se encontrarão.
Já escolhi meu percurso, antes mesmo de decidir.
Sigo seus passos... Aonde desejas ir?
E, se não for amor, o que o é?
E, se não for você, quem o será?
Sigo seus passos... Desejas realmente ir?
Caminhes comigo por onde vou
E, quando chegarmos,
Se existir um fim,
Que seja como tudo em nós...
Intenso sem ser fugaz,
Completo sem ser um,
Eterno sem ser para sempre...
Depois, que sigamos em paz.

dimanche 28 février 2010

A Fênix Ressurgida

        Escrever é, se um amigo me permite usar suas palavras, "sublimar as angúntias e desviar de um futuro patológico qualquer"... E quando nem escrever consegue sublimar minhas angústias? Quando nem o silêncio me consome?
        A morte era para os românticos uma evasão. Não só para os românticos, mas para aqueles que decidem chegar ao fim... Ao fim da vida, ao fim da própria morte, dependendo de quem vive. Fico aqui especulando se, realmente, exista um fim. As pessoas têm tanto medo de chegar que não acreditam na chegada; têm tanto medo de morrer que não acreditam na vida; têm tanto medo de amar que não acreditam na eternidade.
        Assassinaram minhas palavras. Mataram-me dentro de si e morreram dentro de mim. Agora, sigo num luto de uma morte metafórica... Quando ninguém morre de verdade, apenas deixa de existir para alguém. A morte deveria ser natural, deveria acontecer no esgotamento do tempo de vida do desejo de ficar juntos; no esgotamento do tempo de vida do desejo de compartilhar músicas; no esgotamento do tempo de vida do desejo de, simplesmente, residir no coração do outro.
        Será que posso matar minha dor para resnascer das cinzas?

vendredi 26 février 2010

Culpa e Liberdade: Resposta à Fricção Fictícia

        O termo culpa sempre remete à psicologia freudiana. É o sentimento de culpa que molda e delimita a sociedade. A sensação de desamparo por não se sentir culpado é comum e, de certa forma, coercitiva. Contudo, o conformismo causado pela normose da sociedade contemporânea tem como consequência o esgotamento da culpa em si mesma...
      Logo, entra em discussão outro termo: LIBERDADE. Seguindo, ainda, o pensamento freudiano, o esgotamento da culpa pode causar danos irreversíveis à concepção de liberdade... Ser liberto é ter a consciência de si mesmo, de seus desejos, de seus atos, de seus amores e de seus rancores, além de ter a consciência dos limites e das capacidades do outro.
        Assim, se o sentimento de culpa torna-se autodestrutivo, sua liberdade também é destruída. E, se a falta dele não prejudica a outrem, dane-se o que diz Freud... Deixa a carne se pronunciar, arder e consumir, ainda que seja em si mesma.