L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

dimanche 29 mai 2011

Redoma de Vidro

          Depois de algum tempo, abri a porta e entrei na sala. O lugar estava vazio, exceto pela minha presença. Escolhi o melhor ângulo. Sentei. Olhei para frente e lá pude vê-lo. Eu o olhava com admiração enquanto ele conduzia a conversa. A paixão com que falava me apaixonava também. Meus olhos estavam fixos nele. Seus olhos sorriam para mim.
          Alguém abriu a porta. Um simples gesto e a lembrança se desfez. Era um sinal? Ninguém entrou, ainda estava sozinha, exceto pelo amor que trazia em meu peito. Agora, tenho a tarefa de prosseguir com a conversa iniciada do lado de lá do Atlântico. No poema, Amor e Liberdade.
          Depois de algumas descobertas, tirei a máscara e me olhei no espelho. O lugar estava vazio, exceto pela presença dele. Não havia nenhum reflexo, não havia nenhum brilho, não havia nenhuma voz. Não havia sequer um fim. Havia um único corpo: casca inútil, casco oco. Um único corpo!
          Ninguém entrou, ainda estava sozinha, exceto pela dor que trazia em meu peito. Agora, a tarefa de prosseguir com a vida iniciada do lado de lá da Cidade de Vidro. No poema, Solidão e Fraternidade... Era um sinal?

dimanche 22 mai 2011

Alma de pescador

O barulho do vento soprando,
O silêncio do mar resistindo
À imagem da aurora, clareando
A vista de alguém que segue rindo...

O mastro que ao longe despontando
Um barco, um horizonte sumindo
No vaivém da água, tranquilizando
As Almas; um Pescador segue indo...

Altivo como se conhecesse
O próprio destino que é inconstante, 
Incerto, prepotente, distante...

Honrado com se percebesse
Triunfante diante da volta
Que é a vitória da oração que o escolta.

samedi 21 mai 2011

As coisas com o tempo - Homenagem a Fernando Fiúza

Com o tempo tudo vai embora...
Agora, antes ou depois?, quando vê, foi,
Quando vai, não acabou e chora...
Corrobora a distância entre dois.

Com o tempo tudo fica mudo...
Incrusto por silêncio e paciência,
Quando fala, não diz e burla...
Corrobora distância entre dois.

Com o tempo tudo cria asas...
Passa a vida ansiando liberdade,
Quando voa, prende-se, não volta...
Corrobora distância entre nós.

          Com o tempo nem tudo morre...
          Permanece o amor que o eterno constrói.

vendredi 20 mai 2011

Soneto da Ausência

De tudo que considero importante
Diante dos dias vividos por mim
Começo a perceber que num triste fim
Sonho, Amor nada pode ser constante

De tudo, sempre considerei infame,
Certeza única, eterna é a Solidão
Vazia, modelo de angústia do não,
Morte... medo de que nada se derrame

Sinto na alma uma dor, ausência profunda
De amor, de outra presença que me complete
Algo bem mais além do terror que afunda

Será que o amor pode ser tudo na vida?
Um sentimento que o coração desperte,
Um momento de propensa despedida...