L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

dimanche 29 août 2010

Ainda...

Hoje, abri a janela e deixei o sol entrar.
Enquanto a claridade invadia minha alma, pude notar o abismo que separa nossas vidas.
A escuridão falseava a nitidez.
Agora, comtemplo o vazio de mim mesma.
Agora, sinto a impotência de minha situação.
Fico me perguntando o que acontecerá depois...
Depois é tempo que não chega.
Depois. Depois. Depois.
Quero mais do que o agora e o de vez em quando. Quero o Sempre.
Mesmo que seja sempre que você quiser.
Triste de mim que amo sendo amada, mas que espero sem ser esperada.
Triste de mim que desejo sendo desejada, mas que vivo sem ser vivida.
Triste de mim...
Ainda aqui.
Ainda que sendo assim.
Ainda sem saber por quê.
Ainda sem você.

jeudi 26 août 2010

Entretantos, entrepontos, enterrados...

        À margem das três margens das vidas que correm como os rios, perenes ou caudalosos, estamos nós, e estamos a sós com nossos amores pouco prováveis. Pouco? Muito? Perto? Longe? Menos? Mais distantes. Relativamente é por oposição, justamente é pelo não. E quem somos? Se somos, somos três. Se somos, somos um, não pela unidade trina, mas pela individualidade comum.
        Entre todos os abismos escolhi o de minha própria alma. Entre todos os ângulos preferi o de meu próprio princípio. Entre todos os erros encobri o de minha própria saga.
       Entretantos, entrepontos, enterrados. ENTERRADOS? Porque o amor acaba. Com o tempo ou com a distância. Com o ponto ou com a morte. De repente como o silêncio. "O amor acaba", dizem por aí, escrevem por aqui. Eu nunca fui de acreditar nas verdades que se falam, que se buscam, que se rasgam. O que é mesmo VERDADE? Um fio de voz que cala para ser sentida, sonhada. A verdade ERA...
 

mercredi 11 août 2010

Princípios - para A. G.

? Se minha língua fosse outra, o desvio seria normatizadamente contrário. Se meu quarto reflete minha alma, talvez não fosse eu um extenso aposto que introduz um fim infinitamente eterno, mas uma interrogação reflexivamente crítica. Pensando bem, devo contar esta história com outro começo. Se a minha vida for um pretérito perfeito, o ponto interrogativo me introduz, mas a perfeição é (ir)real? No enfim apresentativo de meu presente indicativo, (re)começo neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. Isso me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

... Se o momento fosse outro, meu quarto teria porta. Agora, tenho sim um quarto desarrumado que me incomoda, entretanto, meu quarto não possui parede que me aprisione ou resguarde minha dignidade. O meu lugar é o não-lugar de todo o mundo e, se eu fosse outra, o mundo seria um lugar ideal, porém, causo estranheza aos animais e provoco paixões nos sentimentais. Isso também me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

: a porta bate. Não havia ninguém. Era só o vento me despertando de um pesadelo. A cama não era minha, o cheiro não era meu, não havia travesseiro, aquela não era eu. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. Faz tempo que não encontro um pedaço dela em mim. Faz tempo que me perdi no abraço pequeninamente imenso dela. Realmente fazia tempo. Em contrapartida, nenhum tempo passava sem que ela existisse. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado? Não. Talvez para fingir que não tenho medo, talvez para disfarçar o nada que tenho.

Vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Eu fico me perguntando como ela terminará. Comecei do meio para não perder tempo com despedidas amargas, o que faria desta história um clichê. E ainda me pergunto como terminará, se não há motivo algum para continuar, exceto pelo invólucro letárgico que subordina os meus dias.

Não era noite. Nem sequer era dia. Uma tarde seca como a de Fabiano. Algumas crianças, algumas mulheres, algumas mães, algumas faltas, todas as angústias. A música estava alta e me impedia de ouvir meus pensamentos. O dia não teve nenhum abraço, não teve nenhuma lágrima, apenas conflitos, dores e distâncias. Um princípio breve que ainda dura em mim. Minhas convicções. Minhas convicções! Por isso cheguei até aqui, por isso me perdi. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. As roupas estavam sobre a cama e a mala estava vazia. Era necessário refazê-la outra vez. Um lugar para os vestidos, um lugar para as calças, um lugar para os sapatos... E onde fica o meu lugar? Antes de fechar a mala, dou mais uma olhada na fotografia que eterniza os sorrisos de um paraíso longíquo, enquanto espero um inferno vindouro, duradouro, sumidouro. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado?

E vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Bem, a história se passou por trás de cada palavra, começando com uma despedida amargamente dolorosa, passando por uma saudade dolorosamente amargorosa, terminando com uma mala que volta para casa porque não há milagre que transforme o mundo de números no mundo de Letras. Se minhas convicções fossem outras, meu texto teria enredo e terminaria neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. E isso me fez lembrar de uma outra história que certamente não se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.