L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

vendredi 25 février 2011

Memórias de uma guria viajante II: Enigma

Noutros tempos, eu teria chorado. Teria fechado os olhos e me concentrado em minha força interior. A proximidade daquele homem, o cheiro de suor e a sujeira embaixo de suas unhas atingiam meu espírito como um soco no estômago. Nem sempre foi assim...

Não sei bem se era dia ou se era noite, mas me lembro daquele olhar desejoso. Não sei bem se era medo ou se era nojo, mas me lembro do gosto amargo daquela boca. Não sei bem se era perversidade ou se era doença, mas me lembro do suor frio daquelas mãos umedecendo o meu corpo. Lembro do meu reflexo molestado no espelho, da ingenuidade se diluindo nas lágrimas empoçadas em mãos que teimavam em tapar-me a vista. Não sei bem se eu era menina ou se eu era mulher. Nunca esquecerei as palavras proferidas com ardor por aquele velho homem de expressões suaves. Nem sempre foi assim...

Eu não olhava para nenhum lugar específico. Em silêncio, rezava para que o caminho se encurtasse, Como se isso fosse possível!. Lá fora, árvores e automóveis dividiam as ruas. Pessoas apressadas passavam por aqui, por aí. O ônibus lotado finalmente chegou ao meu destino. Desci. Em passos curtos, continuarei o percurso até em casa. Não sei bem se é perto ou se é longe, mas seguirei até descobrir. 

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