L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

samedi 20 août 2011

Quem pintou minhas rosas?

- Mamãe, posso ficar com o gatinho? - perguntou Cecília enquanto apertava o coelhinho de pelúcia contra o rosto. Eu não precisava responder nem emitir um único som... Ela já corria pela casa puxando seu mais novo bichano pela coleira.
- Meu Deus, o coelhinho vai ficar todo sujo! Vai dar um trabalho para lavar...
A alegria de Cecília era contagiante. Expressões suaves haviam sido pintadas por Deus naquele rosto pequenino, cabelos pretos e lisinhos e sorriso luminoso. Às vezes acho que Cecília já nasceu voando, ilogicamente, com as asas da imaginação. Às vezes, chego a questionar minhas lembranças... Não me recordo de Cecília engatinhando, só a vejo correndo pela casa quando volto no tempo. E ela é uma menininha comumente incomum. Nunca enxergou, não com os olhos. Nunca conheceu as cores, sempre nomeou-as com nomes de frutas. Doce como amora, Cecília sempre tinha histórias para contar:
- Mamãe, tem uma fadinha no meu quarto, desarrumando minhas bonecas.
- Mamãe, a fadinha não me deixa dormir.
Mas o conto mais curioso aconteceu semana passada. A fadinha danada pintou todas as rosas do jardim. Todas as cores mesclaram roxo, todas flores cheiraram lis. Cecília chegou no quarto pela manhã, fazendo a queixa:
- Mamãe, quem trocou o sabor das rosas? Quem roubou meu pudim?
Três dias de castigo e a danada bateu as asas. Voou para longe, pela estrada e Cecília foi dormir. Logo, logo o bichano volta a comer cenoura e um ursinho começa a latir. 

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