L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

mercredi 29 août 2012

Só mais um bater de asas


Tantas coisas aconteceram ao longo dos anos. Coisas que nem sempre pude evitar, nem sempre pude determinar o caminho que as pessoas ao meu redor seguiriam ou, ao menos, o caminho que eu mesma iria tomar. Se eu dissesse que não sei como cheguei até aqui, seria mentira. Lembro-me bem de todas as escolhas que fiz. Todas foram tomadas conscientemente. Entretanto, isso não impede que eu tenha cometido equívocos. Não sei ao certo onde cometi o erro mais grave, se precisava chegar até onde estou hoje para começar a enxergar. Não sei ao certo qual a parcela de culpa de cada um nessa história. E acho, sinceramente, que a culpa não cabe mais em lugar algum.

Fico pensando se esse era o propósito de Deus realmente. Será que Deus realmente tem a ver com tudo isso? Será que eu deveria ter acreditado no amor? Conheci pessoas incríveis, vi lugares belíssimos, aprendi grandes lições... Aprendi que é possível aprender a amar, que é possível desenvolver a paciência, a caridade, o perdão, que é possível questionar a fé e não a perder, que é possível duvidar de tudo o que já se foi, de tudo que virá, de mim mesma.

O tempo passa e com ele os sonhos começam a se tornar mais importantes que qualquer vestígio de remorso, de receio, de perspectiva. O tempo passa e com ele a realização dos sonhos começa a não fazer sentido algum sem amor. Sinto-me presa nos versos cíclicos de um poema triste e inacabado. Sou um eu-lírico tristonho e, às vezes, conformado. Sou uma ferida diabética que, às vezes, cicatriza.

Tantas coisas aconteceram ao longo dos anos. Sinto um desamor tão grande. A vida tornou-se insípida e dilacerada. Faltam pedaços vitais meus. Não me falta o amor de todo... Falta-me amar de todo coração. Lembro-me do amor que tive (e isso me lembra de Vinícius). Lembro-me de perdê-lo, de vê-lo agonizar desesperadamente, como alguém que morre de cólera, contudo, lentamente. O que posso eu, pergunto a você, contra a morte? Ela que cotidianamente me persegue, ela que voluntariamente me observa e pacientemente me espera perecer, na certeza de que, mais dia menos dia, a esperança encalcada que trago na alma se esvaia por entre seus dedos grandes e finos, de ossos expostos.

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