L'ennemi

Voilà que j'ai touché l'automne des idées
Baudelaire

mercredi 11 août 2010

Princípios - para A. G.

? Se minha língua fosse outra, o desvio seria normatizadamente contrário. Se meu quarto reflete minha alma, talvez não fosse eu um extenso aposto que introduz um fim infinitamente eterno, mas uma interrogação reflexivamente crítica. Pensando bem, devo contar esta história com outro começo. Se a minha vida for um pretérito perfeito, o ponto interrogativo me introduz, mas a perfeição é (ir)real? No enfim apresentativo de meu presente indicativo, (re)começo neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. Isso me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

... Se o momento fosse outro, meu quarto teria porta. Agora, tenho sim um quarto desarrumado que me incomoda, entretanto, meu quarto não possui parede que me aprisione ou resguarde minha dignidade. O meu lugar é o não-lugar de todo o mundo e, se eu fosse outra, o mundo seria um lugar ideal, porém, causo estranheza aos animais e provoco paixões nos sentimentais. Isso também me fez lembrar da história que se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

: a porta bate. Não havia ninguém. Era só o vento me despertando de um pesadelo. A cama não era minha, o cheiro não era meu, não havia travesseiro, aquela não era eu. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. Faz tempo que não encontro um pedaço dela em mim. Faz tempo que me perdi no abraço pequeninamente imenso dela. Realmente fazia tempo. Em contrapartida, nenhum tempo passava sem que ela existisse. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado? Não. Talvez para fingir que não tenho medo, talvez para disfarçar o nada que tenho.

Vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Eu fico me perguntando como ela terminará. Comecei do meio para não perder tempo com despedidas amargas, o que faria desta história um clichê. E ainda me pergunto como terminará, se não há motivo algum para continuar, exceto pelo invólucro letárgico que subordina os meus dias.

Não era noite. Nem sequer era dia. Uma tarde seca como a de Fabiano. Algumas crianças, algumas mulheres, algumas mães, algumas faltas, todas as angústias. A música estava alta e me impedia de ouvir meus pensamentos. O dia não teve nenhum abraço, não teve nenhuma lágrima, apenas conflitos, dores e distâncias. Um princípio breve que ainda dura em mim. Minhas convicções. Minhas convicções! Por isso cheguei até aqui, por isso me perdi. Quando a manhã chegou, não abri a janela. Lá fora fazia frio e, no quarto, eu procurava a parte dela. Não encontrei. As roupas estavam sobre a cama e a mala estava vazia. Era necessário refazê-la outra vez. Um lugar para os vestidos, um lugar para as calças, um lugar para os sapatos... E onde fica o meu lugar? Antes de fechar a mala, dou mais uma olhada na fotografia que eterniza os sorrisos de um paraíso longíquo, enquanto espero um inferno vindouro, duradouro, sumidouro. Por que adiar o inevitável? Porque acredito que o inevitável será milagrosamente evitado?

E vocês devem estar se perguntando: afinal, quando a história vai começar? Bem, a história se passou por trás de cada palavra, começando com uma despedida amargamente dolorosa, passando por uma saudade dolorosamente amargorosa, terminando com uma mala que volta para casa porque não há milagre que transforme o mundo de números no mundo de Letras. Se minhas convicções fossem outras, meu texto teria enredo e terminaria neste ponto... Contudo, antes é necessário ressaltar que o ponto se associa a lugar. E isso me fez lembrar de uma outra história que certamente não se inicia agora, mesmo já tendo sido mencionada desde o princípio desta prosa.

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